Durante todo esse sonho o mancebo só tivera uma leve hesitação:
— E a honra de meu pai? perguntou ele. Se vos entrego o roteiro, continuarão a crer que ele traiu El-Rei.
— As grandezas, que vos esperam, apagarão esse triste passado.
— Sim! Cobrirei a chaga com a púrpura! exclamou o mancebo indignado. Serei ilustre, mas deixarei desonrado aquele de quem descendo!
— O que desonra é o crime, não a pena. Tendes a certeza de que vosso pai não cometeu traição; a sentença que o condenou será revogada. Que mais pode exigir a vossa nímia severidade?
Então o mancebo entregou-se sem reserva ao embevecimento daquela palavra sedutora. Seus lábios já descerrados pelo sorriso moviam-se para revelar o lugar onde se achava o roteiro, quando soou fora um grande rumor de armas, tambores e atabales.
Eram os pelotões, destinados à execução militar, que começavam de formar-se no grande pátio do forte. Este som de morte, caindo de repente sobre o enxame de sonhos dourados que esvoaçavam