o frade tinha os olhos pregados na parede oposta que tocava com o sobrado de D. Diogo de Mariz. Seu olhar firme e claro media, como um compasso sobre o papel, as dimensões daquele muro, e traçava as linhas com a justeza de uma régua. Era um matemático de primeira plaina, dos que nascem como Pascal com os dois instintos especiais do algarismo e do metro, e não carecem para as suas operações de outros instrumentos senão do olhar e da memória.
Contudo o jesuíta não se julgou habilitado à solução definitiva do problema; acusando na parede com a ponta de uma pinça o resultado do cálculo que acabava de fazer, remeteu para depois a verificação.
No dia seguinte à hora aprazada Molina entrava na habitação de D. Diogo de Mariz; desde que pisou a soleira da porta, pode-se quase dizer que não era um homem quem penetrava na casa, mas um instrumento geométrico. De feito o frade se movia e regulava, como se o seu corpo fora uma esquadria ou um compasso.
Contou os passos que deu até o gabinete, os degraus que subiu, calculou as diferenças produzidas pela inclinação da escada e desvio da linha reta;