se senta acodem todos de longe, numa grande famiteza. Os mais miúdos chegam bem pertinho; os graúdos, entretanto, parece que desconfiam da boneca, pois ficam, resabiados, a espiar de longe. E nesse divertimento leva a menina horas, até que tia Nastacia appareça no portão do pomar e grite na sua voz sossegada:
— Narizinho, vóvó está chamando!...
II — UMA VEZ...
Uma vez, depois de dar comida aos seus peixinhos, Lucia sentiu os olhos pesados de somno. Deitou-se na grama com a boneca ao lado e ficou acompanhando as nuvens que passeavam pelo céu, formando ora castellos, ora camelos. E já ia dormindo, embalada pelo mexerico das aguas, quando sentiu cocegas no rosto. Arregalando os olhos viu um peixinho vestido de gente, de pé na ponta do seu nariz.
Vestido de gente, sim! Trazia casaco vermelho, cartolinha na cabeça e guarda-chuva na mão — uma galanteza! O peixinho olhava para o nariz de Narizinho com rugas na testa, como quem não está entendendo nada do que vê.
A menina reteve o folego, de medo de o assustar, assim ficando até que sentiu cocegas na testa. Espiou com o rabo dos olhos. Era um besouro que pousára alli. Mas um besouro tambem vestido de gente, trajando sobrecasaca preta, oculos e bengalão.
Lucia immobilizou-se ainda mais, tão interessante estava achando o caso.
Dando com o peixinho, o besouro tirou-lhe o chapéu respeitosamente.
— Muito boas tardes, senhor principe! disse elle.
— Viva, mestre Cascudo! foi a resposta.
— Que novidade traz Vossa Alteza por aqui, principe?