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MONTEIRO LOBATO
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— E' que lasquei hontem duas escamas do filé e o doutor Caramujo me receitou ares do campo. Vim tomar o remedio neste prado, que é muito meu conhecido, mas encontrei cá este morro que me parece estranho.

O principe bateu com a biqueira do guarda-chuva na ponta do nariz de Narizinho.

— Creio que é de marmore, observou.

Os besouros são muito entendidos em questões de terra, pois vivem a cavar buracos. Mesmo assim aquelle besourinho de sobrecasaca não foi capaz de adivinhar que qualidade de "terra" era aquella. Abaixou-se, ageitou os oculos no bico, examinou o nariz e disse:

— Muito molle para ser marmore. Parece antes requeijão.

— Muito moreno para ser requeijão. Parece antes rapadura, contraveio o principe.

O besouro provou a tal terra com a ponta da lingua.

— Muito salgada para ser rapadura. Parece antes...

Mas não concluiu. O principe o havia largado para ir examinar as sobrancelhas.

— Que boas barbatanas, mestre Cascudo! Porque não leva algumas aos seus meninos para que brinquem de chicote?

Gostando da idéa veio o besouro colher barbatanas. Cada fio que arrancava era uma dorzinha aguda que a menina sentia — e bem vontade teve ella de o espantar dalli com uma careta! Mas tudo supportou, curiosa de ver em que aquillo daria.

Deixando o besouro ás voltas com as barbatanas foi o peixinho examinar as ventas.

— Que bellas tócas para uma familia de besouros! exclamou. Porque não se muda para aqui, mestre Cascudo? Sua esposa havia de gostar muito desta repartição de commodos.

Correu o besouro a examinar as tócas, trazendo debai-