Página:As Reinações de Narizinho.pdf/14

Wikisource, a biblioteca livre
MONTEIRO LOBATO
9

vidal-a a uma visita ao seu reino. Narizinho ficou num grande assanhamento.

— Pois vamos e já, gritou, antes que tia Nastacia me chame.

E lá se foram de braços dados, como dois velhos amigos. A boneca seguiu atraz sem dizer palavra.

— Parece que dona Emilia está emburrada, observou o principe.

— Não é burro, não, principe. A pobre é muda de nascença. Ando até a ver se encontro um bom doutor que a cure.

— Tenho um excellente na corte, o celebre doutor Caramujo. Emprega umas pilulas que curam todas as doenças, menos a gosma delle. Tenho a certeza de que põe a senhora Emilia a falar pelos cotovelos.

E ainda estava a contar os milagres das famosas pilulas quando chegaram a certa gruta que Narizinho jamais havia visto naquelle ponto.

— E' aqui a entrada do meu reino, disse o principe.

Narizinho espiou, com medo de entrar.

— Muito escura, principe. Emilia é uma grande medrosa.

A resposta do peixinho foi tirar do bolso um vagalume de cabo de arame, que lhe servia de lanterna viva. A gruta clareou até longe e a "boneca" perdeu o medo. Entraram. Pelo caminho foram saudados, com grandes marcas de respeito, por varias corujas e numerosissimos morcegos. Minutos depois chegaram ao portão do reino. A menina abriu a bocca, admirada.

— Quem construiu este maravilhoso portão de coral, principe? E' tão bonito que até parece sonho!...

— Foram os Polypos, os pedreiros mais trabalhadores e incansaveis do mar. Tambem meu palacio foi construido por elles, todo em coral cór de rosa e branco.