Página:As Reinações de Narizinho.pdf/15

Wikisource, a biblioteca livre
10
NARIZINHO ARREBITADO

Narizinho ainda tinha a bocca aberta quando o principe notou que o portão não fôra fechado aquelle dia.

— E' a segunda vez que isto acontece, observou elle de cara feia. Aposto que o guarda está dormindo.

Entrando, verificaram que assim era. O guarda dormia um somno roncado. Esse guarda não passava dum sapo cururú muito feio, que tinha o posto de major no exercito marinho. Major Agarra-e-não-larga-mais da Silva Fafundes. Pagava-lhe o principe cem moscas por dia para que alli ficasse, de lança em punho, capacete na cabeça e espada á cinta, sapeando a entrada do seu palacio. O Major, porem, tinha o vicio de dormir fóra de horas, e pela segunda vez fôra apanhado em falta.

O principe já ia acordal-o com um bom ponta-pé na barriga quando a menina interveio.

— Não ainda! Tenho uma idéa muito boa. Vamos vestil-o de mulher, para ver a cara delle quando acordar.

E sem esperar resposta, foi tirando a saia da Emilia e vestindo-a muito devagarinho no dorminhoco. Poz-lhe tambem a touca da boneca em lugar do capacete, e o guarda-chuva do principe em lugar da lança. Depois que o deixou assim transformado numa perfeita velha coróca, disse ao principe:

— Pode shutar agora!

O principe, "záz"!... pregou-lhe um valente ponta-pé na barriga.

— Hum!... gemeu o sapo, abrindo os olhos ainda cégos de somno.

O principe engrossou a voz e ralhou:

— Bella coisa, Major! Dormindo como um porco e ainda por cima vestido de velha coróca... Que significa isto?

O sapo mirou-se apatetadamente num espelho que havia alli, sem comprehender coisa nenhuma. Por fim botou a culpa no pobre espelho.