Página:As Reinações de Narizinho.pdf/234

Wikisource, a biblioteca livre
224
O CIRCO DE ESCAVALLINHO

boneca. Em vista disso começaram todos tres a fazer planos e a distribuir papeis. Emilia seria a dama que corre no cavallo e pula os arcos. João Fazdeconta seria o homem que engole espadas e come fogo. E palhaço? Estava faltando justamente o principal, que era o palhaço.

— O visconde daria um bom palhaço, se não fosse a sua mania de sabio; mas acho que podemos cural-o. Vou mandar chamar o doutor Caramujo.

— Acho bôa a idéa, concordou Narizinho. Alem disso...

Mas não poude concluir. Rompera um bate-bocca na cozinha e ouvia-se a voz de tia Nastacia, gritando: "Puxe daqui p'ra fóra!" Os meninos correram a ver do que se tratava e encontraram a negra tocando o visconde com o cabo da vassoura.

— Que é? Que foi?

— Pois é este senhor visconde que está me bobeando. Eu aqui, bem quieta, escamando estes lambarys para o almoço, e o "estrupicio" me apparece de livrinho na mão e começa a mangar commigo, com uma historia de "seno" e "coseno" e não sei que indromina de "mangaritmos". Eu estou cansada de dizer para o estupor que não sei inglez, mas o diabo parece que não acredita...

— "Mangaritmos!" exclamou o visconde erguendo os braços para o céu — e plaf! cahiu por terra com ataque.

Narizinho correu em soccorro e levou-o para a casinha delle, onde o accommodou dentro da lata que lhe servia de cama.

— Depressa! gritou ella para o menino. Mande incontinenti Rabicó chamar o doutor Caramujo. O nosso visconde está muito mal.

A casa do visconde era num vão do armario, na sala de jantar. Dois grossos volumes do Diccionario de Moraes formavam as paredes. Servia de mesa um livro de capa de couro chamado O Banquete, escripto por um tal Platão que viveu