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A PENNA DE PAPAGAIO

I — A VOZ


A história de Peter Pan, que dona Benta contara aos meninos certo dia, tinha-os deixado de cabeça virada. Narizinho só pensava em Wendy; Pedrinho só pensava em Peter Pan, “o menino que nunca quis crescer”.

Pedrinho também não queria crescer, mas estava crescendo. Cada vez que apareciam visitas era certo lhe dizerem, como se fosse um grande cumprimento:

“Como está crescido!” e isso o mortificava.

Um dia, em que estava no pomar trepado numa goiabeira, comendo as goiabas boas e jogando as bichadas para Rabicó, entrou pela centésima vez a pensar naquilo.

— Que maçada! — murmurou de si para si. - Tenho de crescer, ficar do tamanho do tio Antônio, com aquele mesmo bigode, feito um bicho cabelludo, embaixo do nariz e, quem sabe, aquela mesma verruga barbada no queixo. Se houvesse um meio de ficar menino sempre...

— Há coisa ainda superior — respondeu atrás dele uma voz desconhecida. Pedrinho levou um grande susto. Olhou para todos os lados e nada viu. Não havia ninguém por ali.

— Quem está falando? — murmurou com voz tremula.

A mesma voz respondeu:

— Eu!

— Eu, quem? Eu nunca foi nome de gente.

Pedrinho, que andava com Peter Pan na cabeça, pensou imediatamente nele. Só Peter Pan, no mundo inteiro, ter