ria a idéa de vir pregar-lhe aquella peça. Para certificar-se, perguntou:
— Que altura você tem?
— A sua, mais ou menos.
— E que idade tem?
— Mais ou menos a sua.
Se tinha a altura delle e a idade delle, era um menino como elle, e se era um menino como elle, quem mais senão Peter Pan? Pedrinho sentiu uma grande alegria. O endiabrado menino ia apparecer outra vez. Para certificar-se um pedacinho mais, perguntou:
— E que veio fazer aqui?
— Ensinar um grande segredo.
Não podia haver duvida. Era Peter que tinha vindo lhe ensinar o segredo de não crescer. A alegria de Pedrinho cresceu outro palmo.
— Você não me engana, não! gritou, piscando o olho. Você é Peter Pan, que está escondido não sei onde.
A voz fez cara de desentendida.
— Peter Pan? Quem é? Nunca o vi mais gordo e nem de nome conheço esse freguez.
Pedrinho desnorteou. Aquella resposta veio atrapalhar todos os seus calculos. Mesmo assim não se deu por vencido.
— E', sim, porque só Peter Pan sabe como não crescer, e o segredo que você veio ensinar não pode ser outro.
A voz deu uma risada.
— Este Pedrinho quer ser esperto demais e não passa dum bobo. O segredo que vim ensinar é muito mais importante. Sei o geito de tornar uma pessoa invisivel, como eu.
Tal impressão causaram no menino aquellas palavras que perdeu o pé, escorregou da arvore e veio de ponta cabeça ao chão. Felizmente era uma goiabeira baixa e não se machucou. Pedrinho ergueu-se, deu uns tapas nas folhas seccas que lhe pegaram na roupa e indagou:
— Voz duma figa, onde é que você está?
A peor coisa do mundo é falar com creaturas invisiveis.