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NARIZINHO ARREBITADO

Se um hippopotamo ou baleia apparecesse seria o maior dos desastres.

Narizinho correu os olhos pela assistencia. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque e flôres na lapella conversavam com baratinhas de mantilha e myosotis nos cabellos. Abelhas douradas e verdes e azues falavam mal das vespas de cintura fina — achando que era exaggero usarem colletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de toucados de gaze tinham para com o pó das asas. Mamangavas de ferrões amarrados para não morderem. E canarios cantando, e beija-flores beijando flores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, e tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo.

Narizinho e o principe dançaram a primeira contradança sob os olhares de admiração da assistencia. Pelas regras da côrte, quando o principe dançava todos tinham de manter-se de bocca aberta e olhos bem arregalados. Depois começou a grande quadrilha.

Foi o pedaço que Narizinho mais gostou. Quantas scenas engraçadas! Quantas tragedias! Um velho caranguejo que tirara uma gorda tatorana para valsar apertou-a tanto nos braços que a furou com o ferrão. A pobre dama deu um berro ao ver espirrar de si aquelle liquido verde que ellas tem dentro. Ao mesmo tempo que isso se dava, outro desastre acontecia com um besouro do Instituto Historico, que tropeçou numa perola, cahiu e desconjuntou-se todo.

O doutor Caramujo foi chamado ás pressas para tapar esguicho da tatarona e concertar o besouro.

— Que bom cirurgião! exclamou Narizinho, vendo a pericia com que elle arrolhava a tatorana e concertava o besouro com tanta perfeição que só sobraram duas peças — uma pernaxe uma antenna. "E trabalha cientificamente", reflectiu a menina, notando que antes de tratar do doente o doutor nunca deixava de fazer o "respectivo diagnostico".