Página:As Reinações de Narizinho.pdf/37

Wikisource, a biblioteca livre
32
O SITIO DO PICAPAU AMARELLO

— Muito bem, concordou a menina. A velha móra com Pollegar e Pollegar móra com a velha. Mas onde móram os dois?

— Moram juntos.

Narizinho ria-se, ria-se, dizendo: "Possa-se com uma diabinha destas"!

Dona Benta era outra que achava muita graça nas maluquices da boneca. Todas as noites punha-a ao collo para lhe contar historias. Porque não havia no mundo quem gostasse mais de historias do que a boneca. Vivia pedindo que lhe contassem a historia de tudo — do tapete, do relogio, do armario. Quando soube que Pedrinho, o outro neto de dona Benta, estava para vir passar uns tempos no sitio, pediu logo que lhe contassem a historia de Pedrinho.

— Pedrinho não tem historia, respondeu dona Benta rindo-se. E' um menino de dez annos que nunca sahiu da casa de minha filha Antonica e portanto nada fez ainda e nada conhece do mundo. Como ha de ter historia?

— Essa é boa! replicou a boneca. Aquelle livro de capa vermelha da sua estante tambem nunca sahiu de casa e no entanto tem mais de dez historias dentro.

Dona Benta voltou-se para tia Nastacia.

— Esta Emilia diz tanta asneira que é quasi impossivel conversar com ella. Chega a atrapalhar a gente.

— E' porque é de panno, sinhá, explicou a preta, e dum panninho muito ordinario. Se eu imaginasse que ella ia aprender a falar, eu a teria feito de seda ou pelo menos dum retalho daquelle seu vestido de ir á missa.

Dona Benta olhou para tia Nastacia dum certo modo, como que achando aquella explicação muito parecida com as da Emilia...

Nisto appareceu Narizinho, com uma carta para dona Benta vinda pelo correio.

— Letra da sua filha Antonica, vóvó, disse entregando-a. Com certeza é marcando o dia da vinda de Pedrinho.