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O SITIO DO PICAPAU AMARELLO


I — AS JABOTICABAS

De volta do reino das Aguas Claras Narizinho começou todas as noites a sonhar com o principe Escamado, dona Aranha, o doutor Caramujo e mais figurões que lá conhecera. Ficou de geito que não podia ver o menor bichinho sem que se puzesse a imaginar a vida maravilhosa que teriam lá na terrinha delles. E quando não pensava nisso, pensava no Pequeno Pollegar e nos meios de o fazer fugir de novo da historia onde vivia preso.

Era este o assumpto predilecto das conversas da menina com a boneca. Faziam planos de toda a sorte, cada qual mais maluco. Emilia, então, tinha idéas de verdadeira louca varrida.

— Vou lá, dizia ella, e agarro nas orelhas da dona Carocha e dou um pontapé naquelle nariz de papagaio e pégo o Pollegada pelas botas e venho correndo.

Narizinho ria-se, ria-se...

— Vae lá onde, Emilia?

— Lá onde móra a velha.

— E onde móra a velha?

A boneca não sabia, mas não se atrapalhava na resposta. Emilia nunca se atrapalhou nas suas respostas. Dizia as maiores asneiras do mundo, mas respondia.

— A velha móra com o Pequeno Pollegada.

— Pollegar, Emilia!

— POL-LE-GA-DA.

Era teimosa como ella só. Nunca disse doutor Caramujo. Era sempre doutor Cara de Coruja. E nunca quiz dizer Pollegar. Era sempre Pollegada.