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NARIZINHO ARREBITADO

recordando-se que tambem o papagaio promettera vir visital-a.

— Qual sapo, nem papagaio, nem elephante, nem jacaré. Quem vem passar uns tempos comnosco é o Pedrinho, filho da minha filha Antonia.

A menina deu tres pinotes de alegria.

— E quando chega? indagou.

— Deve chegar amanhã de manhã. Aprompte-se. Arrume o quarto de hospedes e endireite essa boneca. Onde se viu uma menina do seu tamanho andar com uma boneca em fraldas de camisa e de um olho só?

— Culpa della, dona Benta! Narizinho tirou a minha sáia e deu-a ao sapão rajado, disse Emilia falando pela primeira vez depois que chegara ao sitio.

Dona Benta levou tamanho susto que por um triz não cahiu da sua cadeirinha de pernas serradas. De olhos arregaladissimos, gritou para a cozinha:

— Corra, tia Nastacia! Venha ver este phenomeno...

A negra appareceu na sala, enxugando as mãos no avental.

— Que é, sinhá? perguntou.

— A boneca de Narizinho está falando!...

A boa negra deu uma risada gostosa, com a beiçaria inteira.

— Impossivel, sinhá! Isso é coisa que nunca se viu. Narizinho está mangando com mecê.

— Mangando o seu nariz! gritou Emilia furiosa. Falo, sim, e hei de falar. Eu não falava porque era muda, mas o doutor Cara de Coruja me deu uma bolinha de barriga de sapo e eu enguli e fiquei falando e hei de falar a vida inteira, sabe?

A negra abriu a maior bocca do mundo.

— E fala mesmo, sinhá!... exclamou no auge do assombro. Fala que nem uma gente! Crédo! Está tudo perdido...

E encostou-se na parede para não cahir.