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MONTEIRO LOBATO
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— Beliscão, emendou Narizinho pela ultima vez, enfiando a boneca no bolso. Viu que a fala da Emilia ainda não estava bem ajustada, coisa que só o tempo poderia corrigir. Viu tambem que era de genio teimoso, e asneirenta por natureza, pensando a respeito de tudo de um modo especial todo seu.

— Melhor que seja assim, philosophou Narizinho. As idéas de vovó e tia Nastacia a respeito de tudo são tão sabidas que a gente já as adivinha antes que abram a bocca. Mas as da Emilia hão de ser sempre novidades.

E voltou para o palacio, onde a côrte estava reunida para outra festa que o principe organizara. Mas assim que entrou na sala de baile rompeu um grande estrondo lá fóra — o estrondo duma voz que dizia:

— Narizinho, vóvó está chamando!...

Tamanho susto causou aquelle trovão entre os personagens do reino marinho que todos se sumiram, como por encanto. Sobreveio então uma ventania muito forte, que envolveu a menina e a boneca, arrastando-as do fundo do oceano para a beira do ribeirãozinho do pomar.

Estavam no sitio de dona Benta outra vez.

Narizinho correu para casa. Assim que a viu entrar, dona Benta disse:

— Uma grande novidade, Lucia. Você vae ter agora um bom companheiro aqui no sitio para brincar. Adivinhe quem é!

A menina lembrou-se logo do Major Agarra, que promettera vir morar com ella.

— Já sei! disse. E' o major Agarra-e-não-larga-mais. Elle bem me falou que vinha.

Dona Benta fez cara de espanto.

— Você está sonhando, menina. Não se trata de major nenhum.

— Se não é o sapo, então é o papagaio! disse Narizinho,