toda a gente. Isso é fala recolhida que tem de ser botada para fóra.
E assim foi. Emilia falou tres horas sem tomar folego. Por fim calou-se.
— Ora graças! exclamou a menina. Podemos agora conversar como gente e saber quem foi o bandido que assaltou você na gruta. Conte tudo direitinho.
Emilia empertigou-se toda e começou a dizer na sua falinha fina de boneca de panno:
— Pois foi aquella diaba da dona Carocha. A coróca appareceu na gruta das cascas...
— Que cascas, Emilia? Você parece que ainda não está regulando...
— Cascas, sim, repetiu a boneca teimosamente. Dessas cascas de bichos molles que você tanto admira e chama conchas. A coróca appareceu e começou a procurar aquelle boneco...
— Que boneco, Emilia?
— O tal Pollegada que furava bolos e que você escondeu numa casca bem lá no fundo. Começou a procurar e foi sacudindo as cascas uma por uma para ver qual tinha boneco dentro. E tanto procurou que achou. E agarrou na casca e foi sahindo com ella debaixo do cobertor...
— Da mantilha, Emilia!
— Do COBERTOR.
— Mantilha, boba!
— COBERTOR. Foi sahindo com ella debaixo do COBERTOR e eu vi e pulei para cima della. Mas a coróca me unhou a cara e me bateu com a casca na cabeça, com tanta força que dormi. Só acordei quando o doutor Cara de Coruja...
— Doutor Caramujo, Emilia!
— Doutor CARA DE CORUJA. Só acordei quando o doutor CARA DE CORUJISSIMA me pregou um liscabão.