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O SITIO DO PICAPAU AMARELLO

fogãozinho de lata, panellas, caldeirão e até rolo de folhear massa de pastel.

— E para vóvó, que é que trouxe? perguntou Narizinho.

— Adivinhe, já que é tão adivinhadeira, disse elle.

— Eu só adivinho quando é você mesmo quem escolhe os presentes. Mas o presente de vóvó aposto que não foi você quem escolheu — foi tia Antonica...

Pela segunda vez Pedrinho abriu a bocca. Aquella prima, apezar de viver na roça, estava-se tornando mais esperta que todas as meninas da cidade.

— Tem razão. E' isso mesmo. O presente de vóvó quem o escolheu e comprou foi mamãe. Você precisa me ensinar o segredo de adivinhar as coisas, Narizinho...

Nesse momento dona Benta appareceu na varanda e Pedrinho correu a abraçal-a.

Dalli a pouco estavam todos reunidos na sala de jantar, ouvindo noticias e historias da cidade. Tia Nastacia trouxe da cozinha a gamela de massa, para não perder uma só palavra e ao mesmo tempo enrolar os bolinhos. Subito uma brisa soprou mais forte e um ringido se fez ouvir — “nhen, nhin”.

Pedrinho interrompeu a conversa, de ouvido attento.

— O mastro de S. João!... murmurou enlevado. Quantas vezes no collegio me illudi com os ringidos das portas, imaginando que era a bandeira do nosso querido mastro!... Como vae elle?

— Já desbotado pelas chuvas e com um rasgão na bandeira, bem em cima da cabeça do carneirinho, respondeu a menina.

O dia de S. João era o grande dia de festa no sitio do Picapau Amarello. Reuniam-se alli todas as creanças dos arredores para soltar bombinhas e pistolões e dançar em torno á fogueira, que nunca deixava de se accender no ter-