reiro. Pedrinho jamais faltou a essa festa annual, como jamais deixou de queimar o dedo. Um anno em que isso não aconteceu ficou muito admirado.
Nos ultimos tempos era Pedrinho quem pintava o mastro, caprichando em formar arabescos de todas as córes, cada anno dum estylo differente. Tambem era elle quem fornecia a bandeira com o retrato de S. João menino, de cruz ao hombro e cordeiro no braço. Trazia-a da cidade, depois de percorrer todas as casas de negocio afim de comprar a mais bonita.
— Está bem, disse dona Benta depois que soube das principaes novidades. Pode ir brincar com Narizinho, que tem um mundo de coisas a contar.
Os dois primos dirigiram-se ao pomar aos pinotes. Era lá, debaixo das velhas arvores, que trocavam confidencias e planejavam as grandes aventuras pelo mundo das maravilhas.
O assumpto do dia foi o extraordinario caso da boneca.
— Parece incrivel! dizia Pedrinho. Quando recebi sua carta contando que Emilia falava, não quiz acreditar. Mas hoje vejo que fala e fala muito bem. E' espantoso!
— No começo, explicou Narizinho, falava muito atrapalhado e sem proposito. Agora já está melhor, mas mesmo assim, quando dá para falar asneiras ou teimar, ninguem póde com a vidinha della. Sabe que já é condessa?
— Sim? Condessa de que?
— De Tres Estrellinhas, nome que ella mesma escolheu. Mas estou com vontade de mudar. Condessa é pouco. Emilia merece ser Marqueza.
— Marqueza de Santos?
— Não. Marqueza de Rabicó.
— E' verdade!... Podemos fazer Rabicó marquez e casar Emilia com elle!