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O SITIO DO PICAPAU AMARELLO

ção cirurgica da mais alta importancia, desfez-lhe a costura da barriga da perna e despejou toda a macella do recheio no alforge de Tom Mix. Em seguida ergueu-se e disse-lhe:

— Aqui tem o seu alforge cheio de ouro-macella!

— Muito bem! respondeu o bandido com os olhos a faiscarem de cubiça. A menina está agora livre e tem em mim d'ora em deante o mais dedicado servidor. Nos momentos de perigo basta gritar: Mix, Mix, Mix! que apparecerei incontinenti para salval-a.

Cumprimentou-a com o chapelão de abas largas e retirou-se, seguido dos seus lagartos.

Ao vel-os sumirem-se ao longe Narizinho creou alma nova.

— Uff! exclamou. Escapamos de boa! Continuemos a nossa viagem, Emilia, disse, tratando de montar novamente. Um, dois, tres — "upa"! Montou. Emilia tambem — um, dois, tres... e nada! Não conseguiu montar.

— Ai! gemeu ella sacudindo a perninha saqueada. Não posso andar, nem montar com esta perna vasia!...

Apezar do triste da situação Narizinho expremeu uma risadinha.

— Malvada! exclamou Emilia chorosa. Salvo você da morte á custa da minha pobre perna e em paga ri-se de mim...

— Perdoe, Emilia! Reconheço que me salvou, mas se soubesse como está comica com essa perna vasia... O melhor é vir commigo, na garupa do pangaré, bem agarradinha. Dê cá a mão. Upa!

Com alguma difficuldade conseguiu accommodal-a na garupa do cavallinho, com recommendação para que se segurasse muito bem, pois tinham de ir a galope.

— Sossegue, Narizinho, que daqui nem torquez me arranca! respondeu Emilia.