Emilia, que ainda não sabia mentir, interrompeu-a, dizendo:
— Não fui eu, foi tia Nastacia quem o fez.
A menina deu-lhe um beliscão sem que o visconde percebesse.
— Não repare. visconde, Emilia é muito modesta. Faz as coisas mas não quer que se diga. Esse vestido ella o fez sózinha, sózinha. Ella mesma escolheu a fazenda, ella mesma cortou e coseu. E olhe como ficou bem assentado nas costas. Levante-se, Emilia, e vire-se de costas para o visconde ver.
Emilia ergueu-se da cadeira, dando umas voltas pela sala.
— Não está dos mais elegantes mas serve, continuou Narizinho. Emilia nasceu aqui na roça e nunca foi á cidade, nem aprendeu costura. Para uma creatura nessas condições não acha que está bem feitinho?
O visconde olhou, olhou e disse:
— Eu, a falar a verdade, não entendo de modas. Mas acho muito bom. Só a saia me parece um tanto curta...
— Eu tambem acho e já o disse a ella; mas Emilia, como tem perna grossa, tem a mania de mostral-a. Só usou saia comprida no tempo em que ficou com a perna secca e contou ao Visconde o caso do ouro-macella. Depois, mudando de assumpto, pediu informações a respeito do genio de Rabicó.
— Elle tem muito bom genio, disse o visconde. Não é briguento, nem provocador. Possue bellas qualidades. Quanto ao mais, gosta muito de dormir ao sol e fossar a terra para descobrir minhocas.
Nesse ponto a menina piscou para a boneca, querendo referir-se á historia de certo anel que elle andava procurando dentro de certa minhoca, e Emilia convenceu-se de que Rabicó era mesmo um principe encantado.