— O unico defeito que tem, continuou o visconde, é comer tudo quanto encontra. Rabicó não respeita coisa nenhuma!
Emilia fez carinha de nojo e foi cuspir á janella. Depois, mettendo-se na conversa, disse:
— Pois se casar-se commigo só ha de comer coisas gostosas e cheirosas. Não consinto que meu marido ande comendo o que encontra.
— Apoiadissimo, Emilia! exclamou a menina. Tambem penso desse modo e acho que você faz muito bem de exigir isso delle. Mas agora só resta saber se você acceita ou não o senhor marquez de Rabicó como esposo. Vamos lá! Resolva!...
Emilia ficou meio afflictinha de ter de decidir por si mesma uma questão de tal gravidade como essa de escolher um esposo e olhou para Narizinho interrogativamente, como quem pede auxilio. Mas a menina não quiz intervir, porque não desejava ficar com a responsabilidade.
— Não posso dar opinião, disse ella. Você tem que decidir por si mesma. Casamento não é brincadeira.
A boneca pensou, pensou, pensou, e afinal, tentada pela idéa de começar marqueza e um dia virar princeza, resolveu-se.
— Pois quero!
Narizinho bateu palmas.
— Bravos! Está tudo resolvido. Senhor visconde, abrace sua nóra, a futura marqueza de Rabicó!...
O visconde ergueu-se, bastante commovido. Abraçou a boneca e deu-lhe um beijo na testa.
Emilia, muito vermelhinha, foi correndo para o quarto.