III — O NOIVADO DE EMILIA
Durou uma semana o noivado de Emilia. Todas as tardes, trazido á força por Pedrinho, apparecia o marquez de Rabicó para visitar a noiva, e tinha de ficar meia hora na sala, contando casos e dizendo palavras de amor.
Mas apezar de noivo Rabicó não perdia os seus instinctos. Logo que entrava punha-se à farejar a sala, na sua eterna preoccupação de descobrir coisas para comer. Além disso, não prestava a menor attenção á conversa. Rabicó não havia nascido para aquellas cerimonias.
Uma tarde Pedrinho zangou-se, resolvendo substituil-o por um representante.
— Rabicó não vale a pena, disse elle aborrecido. Não sabe brincar, não se comporta. O melhor é isto, querem ver? e sahiu; foi ao quintal e trouxe um vidro vazio de oleo de ricino que andava jogado por lá.
— Está aqui! O noivo vae daqui por deante ser representado por este vidro azul e o tal marquez de Rabicó vae passear, concluiu elle, pregando um pontapé no noivo, por despedida.
Rabicó raspou-se, com tres coins, e desde esse dia, emquanto fossava a terra no pomar atraz da tal minhoca de anel na barriga, quem noivava por elle, de cartola na cabeça, era o senhor Vidro Azul.
Emilia comportava-se muito bem, embora de vez em quando viesse com as suas ironias.
— Eu já disse a Narizinho: caso, mas com uma condição!
— Já sei! disse o senhor Vidro Azul. Não quer morar na casa do marquez, com certeza porque não se dá bem com o futuro sogro, o visconde.
— Isso não! Até gosto muito do senhor visconde. O que não quero é sahir daqui. Estou muito acostumada.