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MONTEIRO LOBATO
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— Já sei. Já sei. Pois tome lá estes nickeis e mande vir os doces.

Como era justamente aquillo que Narizinho queria, lá sahiu ella aos pinotes, com os nickeis cantando na mão.


O CASAMENTO


Chegou afinal o dia e vieram os grandes doces: seis cocadas, seis pés de moleque e uma rapadura, doce mais que sufficiente para uma festa onde a maior parte dos convidados comiam de mentira.

Pedrinho armou a mesa da festa debaixo de uma laranjeira do pomar e botou em redor todos os convidados. Lá estavam dona Benta, tia Nastacia e varios conhecidos e parentes, todos representados por pedras, tijolos e pedaços de pau. O inspector de quarteirão, um velho amigo de dona Benta que ás vezes apparecia pelo sitio, era figurado por um tôco de pau com uma dentadura de casca de laranja na bocca.

Chegou a hora. Vieram vindo os noivos. Emilia de vestido branco e véo; Rabicó de cartola e faixa de seda em torno do pescoço. Vinha muito sério, mas assim que se approximou da mesa e sentiu o cheiro das cocadas, ficou de agua na bocca, assanhadissimo. Não viu mais nada.

Logo veio o padre e casou-os. Narizinho abraçou Emilia e chorou uma lagrima de verdade, dando-lhe muitos conselhos. Depois, como a boneca não tivesse dedos, enfiou-lhe no braço um anelzinho seu. Pedrinho fez o mesmo com o marquez: enfiou-lhe no braço uma alliança de casca de laranja, que Rabicó, por duas vezes, tentou comer.

— Comporte-se, ao menos no dia de hoje! disse o menino, ameaçando-o.

Os outros animaes do sitio, as cabras, as gallinhas e os porcos tambem assistiram á festa, mas de longe. Olhavam, olhavam, sem comprehenderem coisa nenhuma.