PINHEIRO – Houve tempo em que nesta mesma casa, neste mesmo lugar, a mesma voz se queixava quando eu não podia me demorar.
CAROLINA – Deixemos o passado em paz.
PINHEIRO – Não se recorda?
CAROLINA – As mulheres só começam a recordar-se depois dos quarenta anos; antes gozam.
PINHEIRO – Pois bem! Que se esqueça o amor, compreendo; mas há certas cousas que lembram sempre.
CAROLINA – Não sei quais sejam.
PINHEIRO – Os benefícios.
CAROLINA – Deixam de ser, quando se lançam em rosto.
PINHEIRO – Não foi essa minha intenção, Carolina; desculpe. O meu espírito se azeda com estas reminiscências. Antes que a ofenda de novo vou dizer o que lhe quero pedir.
CAROLINA – Ah! Vem pedir?
PINHEIRO – Admira-se!
CAROLINA – Como nunca pedi, estranho sempre que me pedem.
PINHEIRO – Talvez algum dia seja obrigada...