pretendo gozá-las até o último momento. Quero ver se a realidade corresponde à imaginação.
RIBEIRO – Está bem, Carolina; podes ficar o tempo que quiseres. Não te zangues por isso.
CAROLINA – Oh! Não me zango! Já estou habituada à vida triste a que me condenaste. Mas hoje...
HELENA – Então não vives satisfeita?
CAROLINA – Não vivo, não, Helena; sabes que me prometeram uma existência brilhante, e me fizeram entrever a felicidade que eu sonhava no meio do luxo, das festas, da riqueza! A ilusão se desvaneceu bem depressa.
RIBEIRO – Tu me ofendes com isto, Carolina.
CAROLINA – Cuidas que foi para me esconder dentro de uma casa, para olhar de longe o mundo sem poder gozá-lo, que eu abandonei meus pais? Que sou eu hoje?... Não tenho nem as minhas esperanças de moça, que já murcharam, nem a liberdade que eu sonhei.
RIBEIRO – Mas, Carolina, tu bem sabes que se eu te guardo para mim somente, se tenho ciúme do mundo, é porque te amo; sou avaro, confesso; sou avaro de um tesouro.
CAROLINA – Não entendo esses amores ocultos, que tem vergonha de se mostrarem; isto é bom para os velhos e os hipócritas. Amar é gozar da existência, a dois, é partilhar seus prazeres, sua felicidade. Que prazeres temos nós