mas ficaria o que sou. No momento em que lhe pertencesse, tornar-me-ia um traste, um objeto de luxo; em vez de viver para mim, seria eu que viveria para obedecer às suas vontades. Não no dia em que a escrava deixar o seu primeiro senhor, será para reaver a liberdade perdida.
PINHEIRO – Não é livre então? Não pode amar aquele que preferir?
CAROLINA – Para uma mulher ser livre é necessário que ela despreze bastante a sociedade para não se importar com as suas leis; ou que a sociedade a despreze tanto que não faça caso de suas ações. Eu não posso ainda repelir essa sociedade em cujo seio vive minha família; há alguns corações que sofreriam com a vergonha da minha existência e com a triste celebridade do meu nome. É preciso sofrer até o dia em que me sinta com bastante coragem para quebrar esses últimos laços que me prendem. Nesse dia se houver um homem que me ame e me ofereça a sua vida, eu a aceitarei; porém como senhora.
PINHEIRO – E por que este dia não será hoje? Diga uma palavra! uma só...
CAROLINA – Hoje?... (Sorrindo.) Não!... Talvez amanhã.
PINHEIRO – Promete?...
CAROLINA – Não prometo nada. Vamos cear. (Erguendo-se.) Anda Helena! Ribeiro!... Deixem-se de conversar agora.