Página:As organizações no ciberespaço.djvu/69

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assegura aos seus membros que enfrentar problemas individuais com sua própria força é a coisa certa e uma coisa que todos os outros indivíduos fazem com sucesso. Os grupos como os dos "vigilantes do peso" são um exemplo de comunidade estética, tal qual uma comunidade para celebrar um festival de rock.

Qualquer que seja o foco, a característica comum dessas comunidades, é a natureza de superficialidade e transitoriedade das relações que surgem entre os participantes. Os elos são descartáveis e pouco duradouros, podem ser desmanchados e não há temor nisso. Para o autor, uma comunidade estética definitivamente não faz tecer entre seus membros uma rede de responsabilidades éticas e, portanto, de compromissos a longo prazo.

Esse não é, contudo, o estímulo que leva os indivíduos a buscarem ser senhores do próprio destino por meio de ações e não meramente declarações públicas. A comunidade que procuram seria uma comunidade ética, oposta à estética. Segundo o autor, uma comunidade tecida de compromissos de longo prazo, de direitos inalienáveis e obrigações inabaláveis e que graças à sua durabilidade prevista e institucionalmente garantida, pode ser tratada como base para planejamentos futuros.

Os compromissos que tornam ética uma comunidade são os de compartilhamento fraterno, onde é reafirmado o direito de todos a uma segurança comunitária contra os erros da vida individual. Buscam nas comunidades éticas garantias de certeza, segurança e proteção, as qualidades que mais fazem falta na vida e não são passíveis de serem obtidas isoladamente.

Os dois modelos de comunidade são muito diferentes e costumam ser misturados ou confundidos no discurso "comunitário" em moda na sociedade contemporânea. Quando misturados, conclui Bauman, "as importantes contradições que os opõem são falsamente apresentadas como problemas filosóficos e dilemas a serem resolvidos pelo refinamento do raciocínio -- em lugar de serem apresentadas como produto dos genuínos conflitos sociais que na realidade são." (BAUMAN, 2003, p.68)