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A venda é o espelho que retrata ao vivo o rosto e o espirito da escravidão.

Se não fosse, se não se chamasse venda, teria outro e mil nomes no patuá do escravo; seria uma casa no deserto, um sitio nas brenhas; estaria na gruta da floresta, em um antro tomado ás feras, mas onde iria sempre o escravo, o quilombola, vender o furto, embriagar-se, ultrajar a honra do senhor e de sua familia, a quem detesta, engolphar-se em vicios, ouvir conselhos envenenados, inflammar-se em odio, e habituar-se á idéa do crime filho da vingança; porque o escravo, por melhor que seja tratado, é, em regra geral pelo facto de ser escravo, sempre e natural e logicamente o primeiro e mais rancoroso inimigo de seu senhor.

O escravo precisa dar expansão á sua raiva, que ferve incessante, e esquecer por momentos ou horas as miserias e os tormentos insondaveis da escravidão; é na venda que elle se expande e esquece; ahi o odio falla licencioso e a aguardente afoga em vapores e no atordoamento a memoria.

Entretanto, a venda é horrivel; é o recinto da assembléa selvagem dos escravos, onde se eleva a tribuna malvada da lascivia feroz, da