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❧ATHENA


E nem os anjos no céu lá em cima,
Nem demonios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.

Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrellas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulchro ao pé do mar,
Ao pé do murmurio do mar.


Ulalume


O céu era livido e frio,
As folhas de um louro mortal,
As folhas de um secco mortal;
Era noite no Outubro vazio
No fim do meu anno fatal;
Era ao pé d'esse lago sombrio
Na media região spectral —
Era perto do pego sombrio
Na fria floresta spectral.

Aqui, por uma alea titanica,
Cyprestea, errei com minha alma —
Cyprestea, com Psyche, minha alma.
Eram dias de mente vulcanica
Como o rio que quente se espalma —
Como a lava que em rio se espalma,
Em furia sulphurea e vesanica
Nas ultimas terras sem calma —
Que geme com magua vesanica
Nas terras extremas sem calma.

Cada um no fallar fôra frio,
Mas na alma d'um gelo mortal —
Na alma d'um dolo mortal,
Pois não demos p'lo Outubro vazio
Nem p'la noite do anno fatal —
(Ah noite entre todas fatal!),

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