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❧ATHENA


Nem notámos o lago sombrio
(Que outrora já viramos tal),
Nem lembrámos o pego sombrio
Nem a fria floresta spectral.

Mas a noite era já senescente
E os astros sonhavam com dia —
E os astros mostravam o dia,
Quando um baço luzir liquescente
Ao fim do caminho surgia,
E da luz se formou um crescente
Que com pontas distinctas luzia —
O de Astarte subido crescente
Com as pontas agudas luzia.

E eu disse, «Ella é lua em verão,
Num ether de amor a boiar;
Vae num ether de ardor a boiar.
Viu que as lagrimas não poderão
Nestas faces comidas seccar,
E as estrellas passou do Leão
O caminho do céu a mostrar —
A paz que ha nos céus a mostrar;
Veio aqui apesar do Leão
Nos trazer o amor no olhar —
Atravez da caverna do Leão
Com amor no seu lucido olhar.»

Mas Psyche, erguendo seu dedo,
Disse, «Nada a esta estrella me dou —
A seu pallido ser me não dou.
Não tardeis! Não tardeis! Vinde cedo
Para longe, onde a alma está só.»
Fallou pallida e triste, e com medo
Suas azas cahiram no pó —
Soluçou angustiada, e com medo
Suas plumas roçaram no pó,
Tristemente roçaram no pó.

Respondi, «Isto é sonho sòmente.
Que nos guie esta tremula luz!
Que nos banhe esta nitida luz!
Seu sibyllio splendor é fulgente
De belleza e speranças a flux —

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