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— Toma conta deste pequeno! És responsável por ele.

E saiu.

Ficando só com Juvêncio, Felipe olhou-o com certa desconfiança e ressentimento. Isso mortificou de novo o rapaz, que lhe perguntou, com voz triste:

— Tem filhos?

— Por que é que você me pergunta isso? Tinha um, que está no céu, há doze anos; e, antes assim! Antes morto do que vivo e ladrão de cavalos!

Juvêncio continuou:

— Ouça, Felipe! Tem sido bondoso comigo, e dói-me muito que me julgue ladrão. Pelo amor que teve ao seu filho, creia que sou inocente! Ainda, um dia há de saber que nunca fui ladrão!

— Sim? — perguntou Felipe, incrédulo — e que quer dizer o que você contou ao patrão?

— Estou buscando o meio de salvar-me. Que importa o meio que emprego, se com isso não faço mal a alguém? O que lhe peço, por tudo quanto possa haver de sagrado para o seu coração, é que não diga que menti ao coronel. Deixe-me ver se consigo sair desta aflição!

— Fique tranqüilo! Não sou homem capaz de fazer mal aos outros!

— Outra cousa! — acrescentou Juvêncio — peço-lhe que não vá, hoje, com os que vão fazer a diligência...

— Que diligência?

— A diligência dos que vão hoje partir à caça dos ladrões.