Página:Atravez do Brazil (1923).pdf/255

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lugar forma efetivamente uma garganta, e o vento esfuzia terrivelmente.

“Depois a estrada desce suavemente para Barbacena. Antes de chegar a essa cidade, há um ponto interessantíssimo, na chapada da Mantiqueira: de uma certa altura, vêem-se três córregos que irradiam e partem em rumos opostos: um leva a água para o rio Doce, que vem ter às costas do Espírito Santo; outro vai para o rio das Velhas e daí para o São Francisco; e o terceiro vai para o rio das Mortes e daí para os rios Grande, Paraná, Paraguai, e da Prata: de forma que a água de um pequeno aguaceiro, caído ali, pode dividir-se e espalhar-se para todas as direções, indo até quatrocentas ou quinhentas léguas de distância... Sabem porque se chama “das Mortes”, esse rio de que falei?

— Sei; — respondeu Carlos — porque aí se deu a célebre batalha dos Emboabas, entre os portugueses e os bandeirantes paulistas, que descobriram e exploraram todo este sertão do centro e do sul do Brasil, indo até Goiás e Mato Grosso.

— Contas-me isso, Carlos? — acudiu Alfredo.

— Depois, quando tiveres conhecido a cidade de São Paulo, de onde partiram quase todos os bandeirantes.

— De Barbacena para lá — continuou Rogério — o caminho vai cortando cabeceiras de diversos rios. É um terreno que muda de aspecto, de momento em momento. Vêem-se enormes faldas de montanhas cavadas pelos rios, profundas grotas, escarpadas furnas, boqueirões imenso. Foi aí que antigamente mais se desenvolveu a mineração. Chegando à estação de Burnier, depois