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Página:Aventuras de Diofanes.djvu/253

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a fome nos obrigava a comer toda a castra de bichos, que lançava de si o mar, sem mais esperança de alívio, que o que nos prometia a morte; então conheci ser aquele trabalho o maior de todos, pois quase tinha extinto a lembrança dos que no primeiro dia chorava, queixando-me do fado, que nos dividira, e ultimamente só me lembrava a feia presença da morte, que ao mesmo tempo, que a desejava para termo de tão cruel desamparo, a temia como último estrago do mesmo tempo; e à proporção, com que o gritar me enrouquecia, perdia também as forças; até que a sabedoria dos Numes, que assistem aos viventes, e acodem aos que desampara a fortuna, te inspirou o valer-nos, amada filha, meu único remédio, e alento da minha esperança.

A estas palavras, com que se explicava a alegria de Delmetra, aportando nos braços a bela filha, que reparava em que o desacordo, e alvoroço da mãe, quase faziam conhecer aos circunstantes o seu fingimento: Consolai-vos, senhora, (lhe disse) que aqui está o vosso querido filho Belino, já não há causa para os delírios; eu sou o mesmo, que sempre vos assistirá, enquanto o permitirem os Deuses: descansai para podermos continuar a buscar a desejada pátria, porque a constância no empreender é costumada