Página:Aventuras de Diofanes.djvu/279

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largue, se perde a vida, saí com as mais constante resolução. No segundo dia de viagem uma densíssima névoa nos ocultou o rumo, e depois de alguns dias de contínuo susto deu a embarcação sobre a areia, pois não houveram forças, diligências, ou clamores ao Céu, que nos livrassem daquele perigo, de que só escaparam cinco pessoas. Quando vi que dos criados, que me acompanhavam, só existiam Antreo, e Arcidas, lamentava com a maior mágoa ter sido eu a causa de sua desgraçada morte, e que talvez que os Deuses já se ofenderiam de meus amantes excessos. Quisemos ver onde estávamos, e nos achamos em uma terra montuosa, de que não tínhamos conhecimento; fomos entrando por seu espesso arvoredo, e topamos com gente agreste, e tão inculta, que se sustentavam de caça, e frutos silvestres; abrigavam-se em mal armadas choupanas, e viviam em contínua guerra entre si; os primeiros chegaram com fúria a nós, perguntando quem nos dera licença para irmos ali. E como a sua rusticidade entendia melhor, lhes disse, que tivessem compaixão de nossa desgraça, pois havíamos naufragado, e buscávamos remédio à fome, que nos maltratava. Ao que responderam, que quem ali entrava, ou jurava viver com eles, ou logo se lhe dava morte, pois não queriam que sabendo-se de sua