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Página:Aventuras de Diofanes.djvu/300

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A primeira noite de meu embarque, como me ficava todo o tempo livre, pois não pensava em máximas de governo, principiei novamente a vacilar sobre o caminho, que haveríeis tomado, e se seria certa a notícia de estardes no serviço de Anfiarau, conforme publicaram as vozes do vosso engenho, e raras qualidades, pois não sabe o tempo sofrer, que um sábio esteja encoberto: lembrava-me se teríeis falecido, ou vossa consorte, e filha, que arrastava sem desmaios as minhas venerações, ou se vos haveriam separado os contratempos; e discorrendo neste vasto motivo de minhas tristes memórias, adormeci: talvez que Morfeu por compaixão de meu atribulado espírito ordenasse aquele misterioso descanso; mas como não descansa a alma, que vigilante ama, nem dorme o coração amante, sonhei que desembarcava em uma situação solitária, e que seguindo um vale agradável, fora dar a um lugar agreste, onde não se viam aves, nem plantas tomado de fumo de sulfútero, que saía de uma horrorosa caverna, e ouvindo um medonho estrondo, sentia tremer toda aquela terra, de que fora tal o meu pavor, que endurecendo-se-me os cabelos coberto de frio suor, um tremor no corpo me precipitava na caverna, onde me faltava o melancólico velho Caronte, e me diziam