Página:Aventuras de Diofanes.djvu/74

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quanto da que fui vivo distante: mas eu te satisfaço, dizendo que me chamo Delmetra, a quem a desgraça roubou da pompa esclarecida, e arrojou a um abismo de misérias; e reduzindo-me ao mais vil estado, fui entregue a contínuos infortúnios. As gentes me aniquilaram, desprezaram-me os alívios, os descansos me desconheceram, e me desampararam as riquezas; mas como é mais poderoso o ânimo constante, que formidável todo o poder do fado, os trabalhos me vivificam, para resistir aos seus assaltos. Separei-me das gentes, e busquei entre as feras o amparo, que me negavam os racionais; e debaixo destes penedos tenho procurado com lágrimas contínuas abrandar a ira dos Céus. Nos primeiros dias parece que me alimentou o pranto; e nos horrores das noites o grande pavor, e inexplicáveis sustos me representavam todo o furor do inferno: nem sei dizer-te o medo, que me causavam os tigres, quando vinham abrigar-se dos rigores do Sol. Todo o cuidado era pouco para me fazer imóvel, temendo a sua ferocidade; quando os via junto a mim, em qualquer de seus movimentos se me figuravam os últimos instantes de minha vida; e ainda que de noite não assistiam aqui, não era menor o horror, que me causava o alarido de diversas vozes, e canto de aves noturnas; sem