Página:Aventuras de Diofanes.djvu/75

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mais abrigo, consolação, luz, ou campainha que a das lágrimas, que produzia a minha desgraça. Assim me lembrava dos meus, e o estado, a que seriam reduzidos, e com vivíssima saudade tinha o desafogo de arrancar do peito magoadíssimos suspiros; e quando cansava o triste espírito, adormecia, ou vencida de cuidados, ou quebrantada de tristeza; quando as feras se recolhiam, saía eu com fome tão feia, que me serviam de alimento as frutas, e ervas amargosíssimas; e como pelo receio de que viesse alguém, me recolhia logo, não tinha sossego fora desta brenha, esperando dever mais compaixão aos brutos, que a habitavam, que os racionais, de quem eu fugia; e ainda que estou em sítio muito solitário, e distante de povoação, era tal o medo, que muitas vezes dei grandes carreiras fugindo, por se me representar que via ao longe algumas pessoas, que se encaminhavam para aquela parte. Passava todo o dia, e noite seguinte em contínuo susto; e quando chegava a sair com muito vagar, e temor, escondendo-me com as árvores, e com os montes, reparava para aquele lugar, e via que algumas pedras tinha dado alheio corpo a minha fantasia, e movimento o meu inexplicável medo: como aqueles culpados, que em parte nenhuma estão seguros, pois levam no delito o instrumento de seu castigo, porque se levantam