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AVENTURAS DE HANS STADEN
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via remedio senão lançar o navio sobre a terra, para encalhá-lo antes que as ondas o desfizessem nas pedras.

Momento tragico ! Vagalhões furiosos despedaçavam-se de encontro ás rochas, rugindo e estrondeando, como se fossem monstruosos gigantes a escabujar em horrendos ataques epilepticos.

Por cima dele os ventos, tomados de verdadeiro acesso de loucura, uivavam, aos corcovos e rodopios.

Imaginem agora vocês a situação do pobre navio metido entre esses dois furores. Casca de noz, cheia de formiguinhas transidas de medo e agarradas ás cordas por instinto de conservação, ora as vagas o erguiam em seu dorso, como o vento ergue a pluma, ora o despenhavam em abismos mais negros que a noite.

Subito, um baque — e o navio do capitão espanhol desfez-se como bolha de sabão ao dar na ponta dum alfinete...

— Bravos, vovó! A senhora está épica! disse Pedrinho.

Dona Benta riu-se e continuou:

— Os naufragos lançaram-se ao mar, uns a nado, outros unidos como ostras aos destroços da embarcação — e ganharam a terra. Estavam salvos!...

Nesses transes horriveis salvar a vida é tudo, de modo que caíram de joelhos para render graças á misericordia divina.

E ali ficaram, naquela praia deserta de um país desconhecido, em penuria extrema, enregelados pelo vento e empapados d'agua como esponjas na chuva.