foi êste o critério que orientou os eminentes estadistas e tratadistas que se sucederam no poder desde eras bem remotas, êles não tiveram a seu lado bons colaboradores e executores. Dai o fracasso dos decretos. Desde o momento que à instrução falte a base, ela de pouca utilidade é; e os seus resultados foram contraproducentes. Porque é que um grande prédio todo de alvenarias reluzentes e embutidos doirados não resiste, e cái por terra ao menor vendaval que se esboça? Porque lhe faltaram uns bons, fundos e sólidos alicerces. Pois nas sociedades, o seu alicerce perduravel que resiste a todas as vississitudes, a todos os embates, é a boa educação: aquela que avigora a matéria, aperfeiçoa a alma; e, refundindo os sentimentos, abate a vaidade, o egoismo e sacode a inércia.
Eis porque, la, como cá, nas colónias como em Portugal, os decretos de instrução se não cumpriram; se não podem mesmo cumprir; porque não ha quem criteriosamente os faça cumprir. De que servirá ensinar francês e inglês aos negros dos sertões ou aos brancos das charnecas, se não é com literaturas que êles governam a sua vida? Ensine-se-lhes a empregar o melhor possivel as suas actividades; ensine-se-lhes a utilizar com vantagem para uns e outros, conquistadores e conquistados, os diversos mecanismos da lavoura, na industria, e os utensilios de pesca. Eduquem-nos em sãos e bons principios de trabalho que êles, depois, compreenderão as vantagens de saber o francês, o inglês, o chinês, se possivel for; antes disso, não!
Tendo nós alguns anos de longa permanencia em Angola (Loanda) o que nos autorisa, em parte a tratar êste assunto, sabemos que existiu, apenas, uma Escola de Artes e Oficios, a que foi dado a nome de Escola Profissional D. Carlos I. Foi efémera a sua duração; tendo sido nulos os resultados práticos e economicos obtidos. E' possivel, provável mesmo, que tivessem dela saide alguns artistas: porém, poucos foram, em relação aos grandes encargos da Escola. Mesmo esta foi por fim suprimida por um dos ultimos governadores gerais que teve a Provincia de Angola.
Criou-se mais tarde uma Escola de Agricultura, na cidade, onde a agua falta em absoluto, tornando, por conseguinte o campo que devia ser de acção, em museu concentrado e estéril. Pode ser que esteja actualmente modificado; no nosso tempo (1918) era assim. Conhecemos-lhe os seus Inspector e sub-Inspector, pessoas, aliás, de toda a respeitabilidade, professores propriamente ditos, não conhecemos nenhuns; alunos ainda menos. E é pena, porque o edificio é amplo e estava ás moscas no nosso tempo. A instrução encontra-se em identicas circunstâncias: uma escola oficial de Instrução Primária para rapazes; outra para raparigas; mais duas sustentadas pela Câmara Municipal. Escusado será acrescentar que nas cidades de 2.a e 3.a categoria o numero de escolas vai decrescendo, como, de resto, sucede aqui, na Metropole. Alêm dêsses estabelecimentos de ensino, há alguns colegios particulares; uma missão americana, um seminário de padres; e no tempo da monarquia, funcionava um colégio de irmãs da caridade onde se ensinava a arranhar o francês, a bordar a canutilho e se ensinava a rezar. Eis tudo, que nós saibamos, ter havido sôb materia de instrução e educação na