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Página:Boletim das Missões Civilizadoras n.o 24 (1925).pdf/15

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longe de a fazer prosperar em produção, a conserva sempre no mesmo estado, apenas semeando e colhendo o preciso para se sustentar; entregue aos serviços domésticos, desconhece as regras mais rudimentares da higiène, da economia doméstica, e não tem, para cousa alguma a verdadeira noção do tempo: trabalha, pois, sem método e sem proveito. Isto tudo se deve ao abandono a que tem sido votada a educação dos povos indigenas, ainda os que vivem mais em contacto com o europeu. Ainda me lembro que, estando nós em Africa (Loanda) donde, aliás sou natural, cidade esta que bem merecia que se olhasse para ela com mais atenção, tanto pela sua conquista e reconquista históricas, como pelo seu clima, hoje considerado assás benigno; onde a europeu já não tem a temer a malária nem o escorbuto — lembro-me, iamos dizendo — da luta que tinhamos que sustentar para conseguir, das criadas, que enxugassem a louça às toalhas competentes: sendo apropriado para elas, o primeiro farrapo sujo e esburacado que se lhe deparava no chão.

Atendendo agora nos chamados civilizados, vemos que a maior aspiração assim que se apanham com o exame de Instrução Primária é o emprego publico, a conquista da tão almejada manguinha de alpaca.

Eles sabem antecipadamente que podem ganhar sem se matarem a trabalhar.

A fama é tal, a da burocracia lisboeta, que invade sem rebuço as carteiras das repartições ultramarinas; sendo o contágio tão pernicioso que o nativo se chega a convencer de que assim mesmo é que é. E assim se vão habituando a defraudar o tesouro público...

Não somos, portanto, apologistas do ensino literário como o têm pretendido, indistinctamente administrar. O que preconizamos é uma educação higiénica, profissional, desenvolvida e bem aplicada que contribua para a melhoria da situação moral e material do indigena e da Metropole.

Daquele, não deve, apenas, ser aproveitado o braço que extrai rudimentarmente a borracha; apanha o café e planta o cacau, semelhante à besta que se atrefa ao carro, se chicoteia e se consegue pôr em movimento; ou à junta de bois que pachorrentamente e com os olhos cheios de ternura, puxa o arado, porque a êle é jungido.

Tambem se não deve pretender impôr ao indigena ainda em estado selvagem a frequencia de escolas de brancos e assimilados, submetendo os seus cerebros acanhados aos profusos e prolixos programas de pedagogia, oficialmente regulamentados na Metropole. Entre estes dois extremos entendemos dever tirar-se a média, o que é muito importante pelo menos assim o entendeu o actual alto comissario da Provincia de Angola, o general sr. Norton de Matos que, em 1913 elaborou o seu inteligente «Projecto de Organização de Instrução Publica na Provincia de Angola» projecto êste a que já tivemos ensejo de nos referir. Este projecto apesar de se intitular de «Instrução», compreende uma grande parte educativa; e sabiamente pôsto em prática são de esperar resultados vantajosissimos.

A educação do indigena deve ser feita por exemplos vivos para bem