se cobriu o velho pai Adão da Biblia, depois de haver pecado, o negro traz um farrapo ou a pele da última corça que matou!
Também sabemos que algumas ordens enérgicas foram dadas para se pôr côbro a tão degradantes percursões em plena cidade; mas se o gentio precisa de vir á cidade vender a sua mercadoria e comprar os géneros para o seu sustento? De resto, desconhecendo em absoluto as mais rudimentares regras da moral pública, porque nunca ninguem perdeu tempo em lhas ensinar, porque ha de cobrir a nudez que para êle é cousa tão natural? O indigena, mesmo aquêle que se conserva em verdadeiro estado selvagem, á semelhança da criança, com facilidade faz o que vê, e aprende o que com insistencia observa. Ora êle não vê, para se civilizar, grandes exemplos de moral e probidade no europeu com quem mais de perto trata: os deportados que a Metropole incessantemente despeja para o Deposito Geral de Degredados da Provincia de Angola.
Estes homens constituem um péssimo elemento de observação para o negro, e de triste reclamo para Portugal. E' um mal êste a que urge pôr cobro; pois o indigena, além do péssimo conceito que póde formular sôbre os brancos em geral, pelos exemplares que se obstinam em mandar-lhe, não aprende os bons costumes sem os quais não é possivel civilizá-lo; e o procedimento da parte das autoridades que tentam corrigi-lo, torna-se antipático, odioso mesmo, a seus olhos, que não descortinam os escrupulos dessa minoria. Se volvermos a vista para a agricultura, vemos que os processos por ele empregados são dos mais rudimentares. Ignorando ainda a existência e utilidade da charrua, dos diferentes maquinismos empregados no amanho das terras, na colheita da semente, etc., etc., o que torna a tarefa mais rápida e mais leve o esforço do homem, o indigena deixa grandes extenções de terreno incultas. Sendo excessivamente indolente, semeia o restrito para prover ás suas necessidades de momento. Não tem ambições; não tem encargos; nem os de familia que obriga os chefes dos povos civilizados a verdadeiros prodigios. A' mãe indigena cabe exclusivamente, o pesado encargo de sustentar a sua, por vezes, numerosa prole.
Esta é mais laboriosa do que o homem, ela não somente trabalha para prover ás necessidades dos filhos como tambem para sustentar os inúmeros vicios do seu companheiro que, a maior parte das vezes, vive do produto do trabalho não só de uma como de muitas mulheres que explora. Porém, se é certo que a mulher indigena das colónias africanas é mais laboriosa do que o homem, seu igual, não se segue que ela produza um trabalho consciente e cuidadosamente executado. Ela trabalha mais porque o egoísmo e desdem que o seu companheiro professa pelo amanho da terra, a isso a obriga; senão morreria de fome. A sua situação de escrava não lhe dá direito a insurgir-se: por isso ela cava, quando ainda vive em estado completamente nómada: varre as ruas da cidade, assalariada pela Câmara, que lhe paga uma bagatela; é criada de servir quando a isso se quere sugeitar. Ela, porém, faz tudo isto sem a mais leve sombra de critério; porque, se cava, desconhece, como o homem, os processos mais adequados para tratar da terra que ocupa; e,