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Página:Brasileiras celebres (1862).djvu/180

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Do sempiterno esse cortejo imenso,
Milhões de mundos, que no espaço habitam;
Oh! Quem isso não vê, nada avalia;
Tem só da vida a parte que não presta...

Possuía porém em si mesma o assunto para suas elegias; achava na angústia de sua alma uma corda afinada pelas cordas de sua lira, e a melancolia, abraçada com a cruz que lhe oferecia o anjo da resignação, lhe inspirava poesias, que lhe lucravam a geral simpatia e despertavam a compaixão dos corações generosos, e novos infortúnios e novas calamidades vinham por seu turno arrancar-lhe novos gemidos, que ela traduzia nessa linguagem divina, que Deus pusera em seus lábios:

Hoje, qual uma tábua no oceano,
Abandonada ao ímpeto das ondas
E perdida pra todos — tal me vejo!
Toda careço, porque a luz é tudo;
Dá-me a luz...dá-me a luz; em vão vos peço.
Pois bem, o braço ao menos, e segura
Meus passos levarei à sepultura.

Após a enfermidade, que com seus dedos mirrados lhe abotoara para sempre as pálpebras, veio a morte roubar-lhe a porção mais cara de alma; e seu pai desceu à sepultura em 1826; essa calamidade repetiu-se em 1833; sua mãe, tão virtuosa, tão meiga e sensível, esse anjo de bondade, — que a afagava sob as asas, — que se esmerava em sua educação, — que a consolava em sua desgraça, —