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LVII

Entre outros bichos de que o bosque abunda,
Vê-se o espelho da gente, que é remissa,
No animal torpe de figura imunda,
A que o nome pusemos da preguiça:
Mostra no aspecto a lentidão profunda,
E, quando mais se bate e mais se atiça,
Conserva o tardo impulso por tal modo,
Que em poucos passos mete um dia todo.

LVIII

Vê-se o cameleão, que não se observa
Que tenha, como os mais, por alimento
Ou folha, ou fruto, ou nota carne, ou erva,
Donde a plebe afirmou que pasta em vento;
Mas sendo certo que o ambiente ferva
De infinitos insetos, por sustento
Creio bem que se nutra na campanha
De quantos deles, respirando, apanha.

LIX

Gira o sareué, como pirata,
Da criação doméstica inimigo;
À canção da guariba sempre ingrata
Responde o guassinim, que o segue amigo.
Da vária caça, que o cabelo mata,
A narração por longa não prossigo,
Veados, capivaras e coatias,
Pacas, teus, periás, tatus, cotias.