Página:Caramuru 1781.djvu/82

Wikisource, a biblioteca livre
III

Se pecando o mau espirito solevas,
Sucede que talvez cruel se enoje;
E como é pai da noite e autor das trevas,
Tanto aborrece a luz, que, em vendo-a, foge.
Porém, se a luz eterna o peito elevas,
Não há Fúria do Averno que se arroje;
Talvez por lhe excitar tristes idéias,
Das chamas que tiveram por cadeias".

IV

Admira o pio herói que assim conheça
A nação rude as legiões do Averno;
Nem já duvida que do céu lhe desça
Clara luz de um principio sempiterno.
"- Diz-me, hóspede amigo, se professa
Este teu povo, diz, com culto externo
Adorar algum Deus? qual é? onde ande?
Se seja um Deus somente, ou que outros mande?"

V

"- Um Deus (diz), um Tupá, um ser possante
Quem poderá negar que reja o mundo,
Ou vendo a nuvem fulminar tonante,
Ou vendo enfurecer-se o mar profundo?
Quem enche o céu de tanta luz brilhante?
Quem borda a terra de um matiz fecundo?
E aquela sala azul, vasta, infinita,
Se não está lá Tupá, quem é que a habita?