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XXVII

Se viste onda sobre onda procelosa,
Quando bate escumando a areia funda,
Como esta aquela engola, e mais furiosa
Montanha d'água vem, que ambas afunda,
Tal na caverna lôbrega horrorosa
Onda e onda de fogo os maus imunda:
Este sobe; Este desce; e um cataclismo
Alaga as nuvens e descobre o abismo.

XXVIII

Aqui o fero anhangá caiu (se conta),
Quando do grão-Tupá rompia o jugo;
E vem dos astros, que soberbo monta,
A ser em pena vil do homem verdugo.
Ali com mão cruel, com fúria pronta
Pune da nossa espécie o vil refugo;
E, em vez de mãos, as miserandas gentes
Enrosca em laços de cruéis serpentes.

XXIX

Ali, do grão-Tupá por lei severa,
No incêndio está, que o tempo não apaga,
Quem torpe incesto faz, quem adultera,
Quem 6 réu da lascívia infame e vaga.
Cada um, como a culpa cometera,
Tanto e no próprio membro o crime paga:
Fere-se a quem feriu; mas o homicida,
Só porque morra mais, não perde a vida.