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CARTAS DE INGLATERRA

Bismarck, organisasse uma expedição militar. Lady Blenington, entre outras coisas embaraçadoras, tinha uma filha: e o bello d’Orsay, não sei porque, nem elle o soube jámais, casou com essa menina. Os noivos vieram viver com Lady Blenington; e, bem depressa, entre seu brilhante marido e sua resplandecente mãe, a pobre condessa d’Orsay foi como uma pallida lampada bruxoleando entre dous astros. Fez então uma cousa sensata e espirituosa: apagou-se de todo, desappareceu. E o conde d’Orsay e Lady Blenington, livres d’aquella senhora que entristecia, regelava as salas com o seu ar honesto e frio, começaram então a scintillar tranquillamente, como constellações conjunctas no firmamento social de Londres. E Londres curvou-se deante d’esta nova e original situação domestica, como se curvava deante de uma nova sobrecasaca do conde d’Orsay, ou deante de uma decisão litteraria de Lady Blenington.

Benjamin Disraeli tornou-se bem depressa um dos heroes d’este salão — onde desde logo se mostrára com esse ar de tranquilla superioridade, de correcto desdem, que foi um dos segredos da sua força. Ordinariamente conservava-se calado, apoiado ao marmore da chaminé, n’uma pose d’Apollo melancholico, abandonando-se á caricia ambiente dos olhares das damas que viam n’elle a encarnação radiante do poetico Vivian Grey. As pessoas mais intimas,