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Página:Cartas de Inglaterra (Eça de Queirós, 1905).djvu/136

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CARTAS DE INGLATERRA
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Com effeito, que artista fino e por vezes poderoso!

Apesar d’este abuso do gongorismo na ficção, do vago e ao mesmo tempo do amaneirado das suas concepções, d’estes enredos e d’estes personagens que por vezes parecem uma mystificação — os seus romances nunca deixam d’interessar, direi mesmo, nunca deixam de captivar. Atravessa-os sempre um enthusiasmo sincero — em que se sente o amor poetico com que elle segue os seus generosos heroes, as suas bellas mulheres, n’esses destinos fóra da realidade. Depois a sua fina sensibilidade, o seu idealismo um pouco convencional, mas de grande elan, os requintes d’um gosto supremo — levam-no a dotar os seus personagens, e a acção em que elles se movem, de uma tal belleza espiritual, de uma tão alta nobreza de costumes, que os olhos enlevam-se, a imaginação namora-se d’esse mundo ficticio, d’essa humanidade de poema, onde nada existe de vulgar ou de baixo, e onde brilham fórmas maravilhosas e transcendentes do pensar, do sentir e do viver.

Isto dá-lhe uma qualidade encantadora: é luminoso. Personagens, paizagens, interiores, o proprio movimento da aventura — tudo está banhado n’uma luz serena e graciosa. Pintando as cousas fóra da