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CARTAS DE INGLATERRA
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ao lord, pagae ao senhorio! E citam-nos a palavra divina d’aquelle que disse: Dae a Cesar o que é de Cesar! Houve só um homem, Brutus, que deu a Cesar o que a Cesar era devido, um punhal atravez do coração!

Esta brutalidade tem grandeza. Agora imagine-se isto lançado a uma multidão opprimida, com os gestos theatraes d’esta raça violenta, de noite, n’um d’estes sinistros descampados da Irlanda, que são todos rocha e urze, ao clarão d’archotes, dando aquella intermittencia de treva e brilho que é como a alma mesma da Irlanda — e veja-se o effeito!

Em Inglaterra, mesmo, os optimistas consideram a insurreição quasi inevitavel para os frios do outomno. E o honesto John Bull prepara-se: já o ministro do interior está em Dublin, e é eminente a declaração da lei marcial... N’este ponto, radicaes e conservadores são unanimes: se a Irlanda se levanta, que se esmague a Irlanda! Sómente John Bull declara que o seu coração ha-de chorar emquanto a sua mão castigar... Excellente pae!

O jornal o Standard, o veneravel Standard, tinha ha dias uma phrase adoravel. «Se, como é de temer, a Irlanda vier a esquecer-se do que deve a si e á Inglaterra» — exclamava o solemne Standard, — «é doloroso pensar que no proximo inverno, para manter a integridade do imperio, a santidade da