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CARTA DE GUIA DE CASADOS
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Primeiro está a obrigação, logo a temperança, e depois o gôsto.

¿ Que direi das voluntárias, que por nome, não menos próprio, se dizem teimosas ? ¿ de outras que aporfiam ? As mais são constantes, e ainda contumazes em seu parecer. Acontece isto com maior freqüência nas ou muito néscias, ou muito presumidas. Não venho em que com a mulher se litigue, que é conceder-lhe uma igualdade no juízo, e império, cousa de que devemos fugir. Faça-se-lhe certo que à sua conta não está o entender, senão o obedecer, e fazer executar, mas que não entenda. Mostre-se-lhe às vezes que, havendo quando se casou entregado sua vontade ao marido, comete agora delito em querer usar daquilo que já não é seu.

Tudo é sombra, se se compara com o defeito da facilidade, ou ligeireza; e ainda o não acabo de dizer, porque não acho nome decente. Mulheres há leves e gloriosas, prezadas de seu parecer: loureiras, cuido eu que lhes chamavam nossos antigos, por significar que a qualquer bafejo do vento se moviam. Êste é o último de seus males. Nem o quero considerar, porque nos não é necessário, nem apontar o remédio. A honra de cada um, e a consciência sejam neste triste caso os conselheiros. Com agudeza definiu êste ponto em poucas palavras um discreto: Sofra o marido à mulher tudo, senão ofense : e a mulher ao marido ofensas, e tudo.

Advertirei, todavia, que aquele seu pretexto, de que cortesanias, ou galanterias não fazem mal, é conclusão erradíssima, cuja prática introduziu a indústria, não a razão. Para que se pregue um prego, costumamos fazer-lhe primeiro lugar com uma subtil verruma. Nenhum vicio entra tamanho como é. Aquele bicho que no Brasil se padece por achaque, sem falta que com