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CARTA DE GUIA DE CASADOS

Ora, pois falamos em fillos, acabemos o que há que dizer àcerca dèles.

Desejá-los é tam justo, como merecê-los. Mas não obrigue este desejo a fazer demasias. Nos moços deve de hever uma boa confiança. E já que nos servimos dos ditados, não vem aqui mal para escusar mais leitura, aquilo que se diz: A Deus rogando, etc. Escuso-me de acabar o adagio, porque de todos é sabido.

Mézinhas, caldas, devoções, frades que benzem, freira que toca, físicos estrangeiros, quintas essências, bebidas desusadas, emprastos desconhecidos; de tudo isto livre Deus a v. m. Muito faz aqui a hombridade; muito mais a cristandade. Por nas mãos de Deus; tomar delas o que vier; que sempre é mais a propósito que nossos desejos.

Ora os filhos nascidos. Guarda de contar graças, nem estremecer sobre êles. Tudo isto os faz malcriados, e aos pais é de pouca opinião. As mães querem que os maridos os tragam, e folguem com êles; quando v. m. caia nesta venialidade, seja a modo de oficios em Igreja interdita, quero dizer a portas fechadas. Não é couse pertencente a um homem ser ama, nem berço de seus filhos.

Fazer-lhes aqueles seus momos, falar-lhes naquela sua linguagem, tudo é indecente. Basta que os veja, e ame, e lhes procure todo o regalo, e boa criação. Essas outras figurarias são próprias das mães, a quem se não há-de tomar em nada o modo, nem o oficio.

Bofé que me lembrou agora uma cousa que me não há-de ficar no tinteiro, mas que todo não venha a propósito. Tinha um ministro muito lisonjeado um certo filhinho seu, que costumava vir a um aposento cheio de grandes pretendentes. Havia entre eles um muito