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CARTAS DE AMOR
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Não o serás, ingrato!..

¿Como posso eu esperar das minhas cartas, e dos meus queixumes, o que o meu amor e inteiro abandôno não puderam vencer da tua ingratidão?

Estou mais que certa da minha infelicidade, o teu uníquo procedimento não me deixa a menor razão para duvidar dela; tudo devo apreender, pois me abandonaste!

¿Os teus atractivos terão porventura só poder sôbre mim? ¿Deixarás tu de parecer bem a outros olhos?

Creio que não desestimaria que os sentimentos dos outros justificassem de algum modo os meus, e quisera que tôdas as damas de França te reputassem amável, que nenhuma te amasse, e que nenhuma te agradasse.

Êste projecto fantástico é ridículo e impossível; não obstante saber assaz de própria experiência quam pouco és capaz de uma tenaz afeição, e que para esquecer-me não careces de auxílio algum, nem de ser constrangido por uma nova paixão.

Talvez desejava conhecer-te algum pretexto com lume de razão… Verdade é que eu seria mais desgraçada, mas tu menos culpável.

Vejo, ainda mal, que te demorarás em França, sem grande contentamento, com plena liberdade.

As fadigas de uma viagem longa, quaisquer pequeninas obrigações, e o pejo de não saber corresponder aos meus transportes, são as causas que te retêm.

Ah! não me temas…

Contentar-me hei com ver-te de tempos a tempos, e saber ùnicamente que vivemos no mesmo sítio, e respiramos o mesmo ar.

Mas quiçá lisonjeio-me, a severidade e rigores de